Será que ambientes de inovação realmente estimulam a conexão?

Tema polêmico, eu sei. Pois bem, esse artigo de opinião tratará de alguns questionamentos que ando me fazendo nos últimos tempos. Meu objetivo é trazer algumas experiências particulares e estimular a reflexão de vocês, que gostam desses devaneios.

Quero enfatizar que sempre participei de grupos, movimentos, comunidades, hubs de inovação e, por estar inserida dentro desse contexto, sempre tive um fácil acesso a conexão com estes ambientes. Apesar disso, quero trazer uma experiência particular (com o objetivo de estimular esta reflexão).

Ano passado, mais especificamente em novembro de 2022, eu fiz uma viagem para Paris e Londres. Ocorre que, apesar da viagem ter o intuito de ser a passeio, eu queria incluir dentro do roteiro alguma agenda de conexões, o que me deixou completamente entusiasmada.

Pois bem, em meu penúltimo dia de viagem em Paris, resolvi ir visitar um hub de inovação, o Station F. A minha expectativa era de conseguir conhecer o espaço, entender mais sobre oportunidades de conexão e construir uma rede de networking com aquele Ecossistema.

Quando cheguei no hub, optei por passar primeiro na cafeteria que tinha ao lado da entrada e pegar um café. Nessa cafeteria fui muito bem recebida. Inclusive, o atendente, ao saber que somos brasileiros, comentou que já esteve em São Paulo.

Depois de tomar um café, fomos para a recepção, onde, sinceramente, a experiência não foi positiva. Vou explicar para vocês o contexto e os motivos:

  • O primeiro ponto é que não houve uma recepção empática por conta da funcionária. Buscamos introduzir palavras em francês, mas, ao ver que estávamos nos comunicando em inglês, não houve uma tentativa de nos ajudar a gerar uma comunicação, chamando alguém que falasse inglês naquele momento;
  • O segundo ponto é que, apesar de não conseguirmos nos comunicar na língua do país (francês), a recepcionista nos disse que teríamos que agendar uma visita no site (isso só compreendemos depois de muitas tentativas de nos comunicar).
  • Um terceiro ponto é que quando entramos no site só tinham visitas para agendamento depois de duas semanas, ou seja, já estaríamos no Brasil.

Após essas negativas por parte do hub, voltamos a cafeteria que comentei e conversamos com o atendente, que nos trouxe que tinha uma startup brasileira residente no Hub. Disposta a conhecer aquele ambiente, busquei imediatamente entrar em contato com os founders dessa startup (tentei por meio do instagram da startup, linkedin dos founders e instagram).

O approach foi contando nossa história e sendo totalmente sincera. Trouxe como elementos que somos da inovação (tanto eu quanto Gustavo), que estávamos no país por mais um dia e que gostaríamos de nos conectar com eles, tomaram café e conhecer o espaço do hub. Obtive o e-mail de um dos founders e mandei um texto explicando essa situação.

Ao mesmo tempo, eu e Gustavo tentamos ir em um espaço gastronômico que tinha no complexo, onde peguei um chopp e fiquei buscando algum contexto para abordar as pessoas (que estavam em rodas trabalhando por ali). Apesar de diversas tentativas, não obtivemos sucesso, pois as pessoas estavam em rodas fechadas e, por culturalmente ser diferente a interação social, não conseguimos criar uma comunicação que fizesse sentido para estabelecer uma conexão.

De qualquer forma, foi interessante passar por essa situação. Acabamos não conseguindo conhecer o espaço do Hub, mas essa experiência me gerou diversas reflexões que comentarei mais abaixo.

Nossa viagem seguiu e, o próximo país a ser visitado seria Londres. Em um dos pubs que andávamos em nosso pub crawl, conhecemos um individuo que era responsável pela internacionalização de startups e inserção no país. A conversa foi muito interessante e, durante o papo, perguntamos se ele recomendava que fossemos conhecer os hub de Londres durante os próximos dias. O Feedback dado é que passaríamos pela mesma situação, pois, não costumam receber pessoas que não tem horários agendados.

Ao retornar ao Brasil, fiquei com essa problemática na cabeça. Basicamente, por que não conseguimos entrar nos Hubs e tivemos dificuldade de nos conectar com as pessoas que estavam inseridas nesse contexto?

Apesar de ter entrada nos hubs e comunidades do Brasil, comecei a investigar o formato de atuação destes ambientes. No geral, procurei entender algumas perguntas: quando alguém chega no hub, consegue entrar imediatamente ou há uma burocracia? como faz para se conectar com as empresas inseridas dentro deste contexto? existem modos de visitar esses espaços sem agendamento prévio? existem agendamentos prévios?

A questão é que, em linhas gerais, a resposta a essas perguntas foi no mesmo sentido do Hub que tentamos visitar na França, ou seja, há uma dificuldade de conexão de quem não está inserido dentro daquela comunidade.

Ressalto novamente que o objetivo aqui não é criticar os modelos de hubs que temos, muito menos trazer uma solução, mas sim, estimular uma reflexão sobre o assunto.

Trouxe aqui um exemplo de hubs, mas o mesmo se aplica com comunidades. Estou inserida em diversos grupos de inovação e empreendedorismo e comunidades de diversas localidades. Sinto a mesma situação. O primeiro ponto é que há uma dificuldade de entrar nesses grupos e, quando entramos, como fazemos para nos conectar?

Acredito que há um problema prático, de execução, pois, me parece que o propósito destes ambientes são de conectar as pessoas, porém, acaba virando apenas um discurso teórico quando não há ações que estimulem aquele grupo a atingir a tão esperada conexão.

Toda essa reflexão me faz chegar a conclusão de que, a maioria das pessoas, em ambientes de inovação, não descobriram os mecanismos para conseguirem se conectar e gerar oportunidades para seus negócios.

Para finalizar, trago uma provocação: vocês acreditam que a responsabilidade de conectar é do grupos que os indivíduos estão inseridos ou de cada individuo?

Em meu próximo artigo vou abordar esta outra reflexão, de como assumirmos a responsabilidade de nos conectar nesses ambientes inovadores.

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